Quando falamos em gestão de riscos, a primeira dúvida que surge é: quais as melhores estratégias para mitigar e prevenir riscos na minha organização? Além disso, na área da saúde, onde o impacto de um risco pode ser crítico e a probabilidade de ocorrer é alta, outra grande questão é: como responder a esses riscos de forma eficaz?
Portanto, uma das estratégias mais assertivas é evitar o risco. Ao invés de apenas lidar com suas consequências ou tentar mitigá-lo, essa abordagem busca eliminar a exposição ao risco, removendo ou alterando a atividade ou o procedimento que o gera. Enfim , isso é um diferencial em situações onde a ocorrência do risco pode comprometer seriamente a operação e a segurança.
Estratégias para eliminar ou mitigar os riscos da operação
Quando o objetivo é eliminar riscos, diversas estratégias podem ser adotadas para garantir a segurança e eficiência das operações. Aqui estão algumas abordagens eficazes para lidar com os riscos de maneira preventiva ou corretiva, seja removendo o risco completamente ou minimizando seus impactos ao máximo.
1- Uso de Tecnologias Substitutas ou Mais Seguras
Em alguns casos, o uso de uma tecnologia mais segura ou moderna pode eliminar a exposição a um risco. Por exemplo, substituir agulhas convencionais por agulhas com dispositivos de segurança pode eliminar o risco de perfurações acidentais de profissionais de saúde.
2- Mudança de Processos
Riscos podem ser evitados ao alterar ou redesenhar processos de trabalho. Por exemplo, se um procedimento clínico envolve alto risco de infecção, ele pode ser eliminado ao mudar o método de tratamento, optando por uma abordagem menos invasiva ou mais segura.
3- Descontinuação de Procedimentos Desnecessários
Algumas práticas podem ser eliminadas quando não trazem benefícios significativos ou quando os riscos superam os benefícios. Por exemplo, ao revisar os procedimentos e constatar que um exame ou intervenção não agrega valor clínico, ele pode ser descontinuado, eliminando os riscos associados.
4- Terceirização ou Transferência de Serviços de Alto Risco
Em casos em que o risco é muito alto e difícil de controlar internamente, a instituição pode optar por terceirizar ou transferir essa atividade para uma organização especializada, que tenha melhores recursos para gerenciar esses riscos. Exemplo: a terceirização da gestão de resíduos perigosos de hospitais.
5- Eliminação de Produtos Perigosos
Substituir medicamentos, materiais ou substâncias químicas perigosas por alternativas mais seguras pode eliminar certos riscos. Por exemplo, a substituição de desinfetantes hospitalares altamente tóxicos por alternativas biodegradáveis e menos agressivas.
6- Revisão de Políticas e Procedimentos
Em algumas situações, políticas institucionais ou práticas de trabalho criam riscos desnecessários. Eliminando ou revisando essas políticas, o risco pode ser evitado. Por exemplo, evitar a administração de medicamentos de alto risco sem uma dupla checagem pode eliminar erros críticos de medicação.
Exemplos práticos no setor de saúde:
- Prevenção de Infecções: A instalação de sistemas de ventilação adequados e o uso de técnicas assépticas em cirurgias podem eliminar o risco de contaminação.
- Abolição de Práticas Inseguras: Se um determinado equipamento médico está obsoleto e frequentemente falha, ele pode ser eliminado e substituído por um mais moderno, eliminando os riscos associados a seu uso.
Nem todos os riscos podem ser evitados!
Sinto lhe informar, mas a verdade é que nem todos os riscos podem ser evitados!
É importante destacar que nem sempre é possível evitar todos os riscos, pois muitas atividades críticas da área de saúde envolvem riscos inerentes.
Nessas situações, a eliminação do risco pode comprometer o cuidado ao paciente, e a mitigação se torna a abordagem mais realista.
Mitigue os riscos
“Mitigar o risco: Ações preventivas e corretivas para reduzir o impacto e a probabilidade de riscos.”
Enfim, mitigar o risco envolve a adoção de ações para reduzir tanto a probabilidade de um risco ocorrer quanto o impacto que ele pode causar.
Em vez de tentar eliminar completamente o risco (o que nem sempre é possível), a mitigação busca controlá-lo e minimizar seus efeitos.
Isso pode ser feito por meio de ações preventivas e corretivas, que aumentam a segurança e a eficiência nos processos de saúde.
Ações Preventivas – Reduza a probabilidade de ocorrência
As ações preventivas são implementadas antes que o risco se materialize. Elas visam diminuir a chance de o risco ocorrer, criando barreiras ou melhorias nos processos para evitar falhas.
Exemplos:
- Treinamento contínuo: Capacitar os profissionais de saúde para seguir protocolos de segurança, como a administração correta de medicamentos ou práticas assépticas, ajuda a reduzir a chance de erros.
- Padronização de processos: Implementar checklists e protocolos de atendimento padronizados garante que todas as etapas críticas sejam cumpridas corretamente, minimizando o risco de falhas.
- Manutenção preventiva de equipamentos: Agendar inspeções regulares e manutenções em equipamentos médicos pode prevenir falhas e paradas inesperadas durante procedimentos críticos.
- Sistemas de alerta e monitoramento: Utilizar sistemas eletrônicos para monitorar sinais vitais dos pacientes ou alertar sobre doses incorretas de medicamentos ajuda a evitar incidentes.
- Controle de infecções: Medidas como a lavagem das mãos, uso adequado de EPIs (equipamentos de proteção individual) e desinfecção frequente de superfícies reduzem a chance de infecções hospitalares.
Ações Corretivas – Reduza o impacto do risco materializado
As ações corretivas são adotadas após a ocorrência do risco ou quando há um indicativo de que o risco está prestes a se concretizar. O foco é reduzir os danos e o impacto, controlando os efeitos negativos do risco.
Exemplos:
- Plano de contingência: Ter planos de ação detalhados para lidar com emergências, como falha de sistemas ou falta de recursos, pode minimizar o impacto no atendimento e na segurança do paciente.
- Resposta rápida a incidentes: As equipes de resposta rápida podem ser acionadas para intervir imediatamente quando um risco, como uma parada cardíaca ou uma reação adversa a um medicamento, se materializa, reduzindo assim os danos ao paciente.
- Correção de falhas sistêmicas: Após identificar um erro, como a falha no software de gestão de medicamentos, a equipe pode implementar ações corretivas para ajustar o sistema e prevenir novos erros.
- Revisão e melhoria de processos: Após um evento adverso, como uma infecção adquirida no hospital, a equipe pode revisar o processo para identificar falhas e aplicar melhorias que evitem a repetição do problema.
Ações Combinadas
Muitas vezes, é eficaz combinar ações preventivas e corretivas para abordar os riscos de maneira abrangente. Por exemplo, além de realizar a manutenção preventiva de equipamentos médicos, também pode ser útil ter um plano de contingência em caso de falha inesperada.
Aceitando os riscos
“Aceitar o risco: Quando a organização reconhece que o risco é baixo e pode ser absorvido.”
Enfim, aceitar o risco é uma estratégia de gestão de riscos em que a organização reconhece que determinado risco tem baixa probabilidade de ocorrer e/ou baixo impacto e decide não tomar medidas preventivas adicionais, pois os custos ou esforços para mitigá-lo seriam desproporcionais ao potencial dano.
Neste caso, o risco é considerado tolerável ou aceitável, e a organização está preparada para lidar com suas consequências, caso ocorra.
Quando aceitar o risco é adequado:
- Baixa Probabilidade e Baixo Impacto: Quando o risco tem baixa chance de ocorrer e, mesmo que se concretize, seu impacto será mínimo ou facilmente absorvível. Exemplo: um pequeno atraso no processamento de documentos administrativos que não afeta diretamente o atendimento ao paciente.
- Custo de Mitigação Desproporcional: Quando os custos ou recursos necessários para mitigar o risco se tornam muito altos em comparação ao benefício obtido, a equipe pode optar por aceitar o risco. Por exemplo, a equipe pode considerar excessivo investir em um sistema de backup de TI de alto custo para uma pequena clínica, onde o sistema raramente falha.
- Impossibilidade de Eliminação Total: Alguns riscos são inerentes ao setor de saúde e a equipe não pode eliminá-los completamente. Nestes casos, a organização pode optar por aceitar o risco, desde que as consequências sejam gerenciáveis. Exemplo: o risco de complicações em procedimentos médicos, que, apesar de baixos, é impossível de eliminar completamente.
- Risco Faz Parte da Estratégia: Em alguns casos, a aceitação do risco faz parte da estratégia operacional da organização. Exemplo: uma instituição de saúde pode optar por manter uma política de inovação médica, mesmo sabendo que novos tratamentos trazem incertezas e riscos iniciais, pois os benefícios a longo prazo são maiores.
Monitoramento Contínuo
Embora o risco seja aceito, a organização deve monitorá-lo constantemente para garantir que ele permaneça em níveis toleráveis e para detectar mudanças que possam exigir uma ação futura.
Exemplo: aceitar um risco financeiro controlado, mas manter um acompanhamento regular para garantir que ele não se agrave.
Aceitar o risco é uma decisão consciente e estratégica que a organização toma quando acredita que o risco é gerenciável e que não vale a pena investir recursos significativos para mitigá-lo. Contudo, a organização deve basear essa decisão em uma análise cuidadosa e segura, pois isso garantirá que os riscos aceitos não comprometam a segurança dos pacientes ou a continuidade das operações.
Metodologias para mitigar e prevenir riscos
Algumas metodologias podem ser utilizadas estrategicamente para mitigar e prevenir riscos na saúde, são elas:
1- HFMEA (Análise de Modos de Falha e Efeitos)
HFMEA, ou Healthcare Failure Mode and Effects Analysis, é uma ferramenta proativa utilizada para identificar e prevenir modos de falha em sistemas de saúde antes que eles causem danos. O HFMEA se concentra em analisar processos de atendimento à saúde para identificar onde as falhas podem ocorrer e quais seriam suas consequências. É especialmente útil para prevenir eventos adversos e melhorar a segurança do paciente.
2- Análise de Causa Raiz (ACR)
A Análise de Causa Raiz é uma abordagem utilizada para investigar a fundo as causas subjacentes de um problema ou evento adverso. Em vez de se concentrar apenas nos sintomas, a ACR busca entender por que o problema ocorreu, identificando fatores contribuintes e propondo soluções para evitar a recorrência do problema.
3- Análise SWOT
A Análise SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats) é uma ferramenta que ajuda as organizações a identificarem e avaliar suas forças, fraquezas, oportunidades e ameaças. No contexto da gestão de riscos em saúde, a Análise SWOT pode ajudar a mapear a situação atual da instituição e identificar áreas de vulnerabilidade e risco.
4- Análise de Risco Qualitativa e Quantitativa
Essas análises são abordagens complementares na avaliação de riscos. Enquanto a análise qualitativa envolve a avaliação subjetiva do risco, considerando a probabilidade e o impacto, enquanto a análise quantitativa utiliza dados numéricos para calcular o risco de maneira mais precisa.
Escolha a abordagem que melhor se adapta a sua realidade para priorizar ações e decisões.
5- Mapeamento de Processos
O mapeamento de processos é uma técnica que visualiza o fluxo de trabalho e as interações em uma instituição de saúde. Ele ajuda a identificar pontos críticos onde os riscos podem ocorrer e a otimizar processos para melhorar a eficiência e a segurança.
6- Planos de Resposta a Emergências
Os planos de resposta a emergências são documentos que descrevem como uma instituição deve reagir a situações de crise, como desastres naturais, surtos de doenças ou falhas de equipamentos. Esses planos são essenciais para garantir a segurança dos pacientes e a continuidade das operações em momentos críticos.
7- Monitoramento de Indicadores de Desempenho
O monitoramento contínuo de indicadores de desempenho relacionados à segurança do paciente e à qualidade do atendimento é uma estratégia eficaz para identificar e gerenciar riscos. Tenha em mente, acompanhar regularmente os indicadores como: taxas de infecção, erros de medicação e eventos adversos é imprescindível.
Faça uso de métodos e estratégias para mitigar e prevenir riscos
Em um ambiente complexo e dinâmico como a saúde, a gestão de riscos é fundamental para garantir a segurança do paciente e a eficácia das operações.
Ao adotar estratégias como a eliminação, mitigação e aceitação de riscos, as organizações de saúde podem não apenas prevenir eventos adversos, mas também promover uma cultura de segurança e excelência no atendimento.
A implementação de ferramentas e metodologias eficazes, como HFMEA e Análise de Causa Raiz, permite que as instituições antecipem problemas, melhorem continuamente seus processos e ofereçam cuidados de qualidade.
Assim, investir na gestão de riscos é um passo essencial para o fortalecimento da saúde e bem-estar de todos.
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