A Governança Clínica é um tema que está ganhando cada vez mais destaque no mundo da saúde, e isso não é por acaso.
Trata-se de um conceito que vai muito além das paredes dos hospitais e clínicas, impactando diretamente a qualidade do atendimento médico, os resultados dos tratamentos e até mesmo o custo dos serviços de saúde.
Mas por que deveríamos nos importar com a Governança Clínica? O que a torna tão relevante nesse mercado que passa por tantas transformações para atender às expectativas do paciente?
Para que um sistema de saúde funcione, a tomada de decisão médica deve ser eficiente e orientada por evidências científicas sólidas. Nesse sistema, os pacientes recebem tratamentos personalizados, baseados em suas necessidades individuais, e os resultados clínicos são consistentemente excelentes, seja em hospital, clinicas especializadas, laboratórios, atenção primária, entre outros. Além disso, os recursos são alocados de forma eficaz, reduzindo desperdícios e custos desnecessários que muitas vezes fragilizam a saúde financeira da instituição, pois quando existe governança clínica, é possível diminuir o desperdício de materiais, tempo e dinheiro.
A Governança Clínica busca exatamente essa segurança.
Então, se você está curioso para entender como a Governança Clínica está revolucionando a área da saúde, como ela está afetando os profissionais e pacientes, e como você pode se beneficiar desse novo paradigma, continue lendo.
Vamos explorar juntos esse fascinante e vital tema que está moldando o futuro da assistência à saúde.
O que é Governança Clínica
É um conjunto de práticas e estratégias que visa melhorar a qualidade do atendimento, otimizar a utilização dos recursos e promover a transparência e a prestação de contas no campo da saúde.
Ela também enfatiza o envolvimento ativo dos profissionais de saúde, incentivando a colaboração interdisciplinar e a atualização constante com base nas melhores evidências disponíveis.
Portanto é uma estratégia focada na entrega de valor ao paciente e cliente da saúde. Esse modelo de gestão coloca os serviços ofertados no centro das decisões tomadas pelos gestores da saúde, reforçando ações de fidelização dos clientes e parceiros.
O conceito de governança clínica surgiu na década de 1990, pelo NHS (National Health System), que é o sistema de saúde pública do Reino Unido, com a implantação de boas práticas, consolidadas por meio de um modelo de gestão voltado à qualidade dos serviços.
O NHS define governança clínica como: “Um sistema através do qual as organizações são responsáveis por melhorar continuamente a qualidade dos seus serviços e a garantia de elevados padrões de atendimento, criando um ambiente de excelência de cuidados clínicos”.
A importância da Governança Clínica para fortalecer a Qualidade em Saúde
Aqui está a grande questão: a Governança Clínica não é apenas uma teoria abstrata, é um movimento que está sendo implementado em hospitais e todo o sistema de saúde e em todo o mundo.
Ela está transformando a maneira como os médicos e todos os profissionais de saúde trabalham, e está moldando o futuro da assistência à saúde.
O investimento em governança clínica qualifica os serviços de saúde, permitindo sua avaliação e evolução constante.
Para uma Governança Clinica acontecer de fato, há a necessidade da adesão das diretrizes de áreas como gestão da qualidade e governança organizacional para otimizar e aperfeiçoar processos.
A Governança Clinica deve ser contemplada no Planejamento Estratégico, afinal, estabelecimentos de saúde não deixam de ser empresas e, como tais, precisam diminuir custos evitáveis.
Há a necessidade de implantar o chamado cuidado coordenado ou linha do cuidado, que empodera cada funcionário, parceiro e cliente para que exerçam seu papel em prol do sucesso nas práticas de saúde.
Os Pilares da Governança Clínica
Seguem os 07 pilares da Governança Clinica
1.Experiência do Paciente
A execução dos processos impacta diretamente na experiência do paciente, sendo ela positiva ou negativa.
Prever que os processos assistenciais e de apoio devem ser desenhados a fim de atender as expectativas e entregar uma experiência satisfatória ao paciente.
Na governança assistencial temos o paciente como centro do atendimento, ou seja, a equipe multidisciplinar deve considerar sempre as expectativas e prioridades do paciente e seus cuidadores, entendendo quais são suas principais preocupações para avaliar e promover um cuidado adequado.
Lembrando que: Acolhimento humanizado não significa quebrar protocolos.
2. Gestão do Risco
O ambiente da saúde tem riscos inerentes. Por isso, é extremamente importante que as instituições estudem e avaliem os fatores que podem impactar direta e indiretamente nos resultados da Governança Clínica, permitindo a correção ágil desses problemas.
Desse modo, é importante que exista uma cultura de transparência e de responsabilização da equipe envolvida. Controlar o maior número de fatores que podem impactar nesse processo é primordial para a segurança do paciente
A dificuldade da equipe clínica para identificar e avaliar fatores de riscos aos processos assistenciais é um problema muito comum. É muito comum notar uma visão retrospectiva do processo, analisando os eventos que impactaram na jornada a partir de notificações e reuniões de discussão, depois que o evento já aconteceu.
Porém, é importante também analisar de forma prospectiva, direcionando esforços para evitar riscos, de modo preventivo.
3. Efetividade e Eficiência Clínica
A efetividade clínica é o desfecho de um atendimento, isto é, o resultado que se entrega ao paciente. Já a eficiência se refere à relação entre o benefício oferecido e seu custo.
As instituições precisam avaliar quais modelos trazem melhores desfechos.
O uso de metodologias e soluções inteligentes auxiliam os gestores a identificar os modelos de fluxos mais eficientes e que tragam os desfechos esperados.
Os resultados precisam ter evidências de efetividade e eficiência para o paciente. Tudo deve ser baseado em dados de qualidade e reconhecidos por entidades de saúde como a Organização Mundial da Saúde (OMS).
4. Auditoria Clínica
A auditoria clínica avalia a ação evidenciada dos processos visando a melhoria contínua, aprimorando os resultados de qualidade e eficiência da assistência.
Para um processo eficiente, a instituição deve garantir uma equipe preparada e tecnologias que suportem a análise da realidade dos processos na saúde, ou seja, apresentando a realidade de uma forma que faça sentido para os auditores clínicos e sempre alinhado a estratégia da Governança Clínica.
O debate (diálogo) e a disseminação dos resultados permitirão a melhoria dos processos, fazendo com que a Governança Clínica traga os resultados esperados.
O acompanhamento, é geralmente feito pela gestão da qualidade que foca no valor que é entregue durante o atendimento, através de análise das ações e dos registros seguros.
O principal componente da auditoria clínica é a revisão (ou auditoria) para garantir que o que se deveria estar fazendo está sendo feito e, se não, fornecer uma estrutura para permitir que melhorias sejam implementadas.
Duas formas de auditoria clínica:
- Auditoria através da avaliação Tracer
Prontuário analisado do início ao fim, entendendo todas os pontos fortes e todas as fragilidades encontradas. Avaliação de menos prontuários, porém por completo.
- Auditoria pontual
Analisar pontos específicos pré definidos, para evidenciar os pontos fortes e todas as fragilidades encontradas, como por exemplo: adesão de um protocolo clinico, qualidade da prescrição médica, etc. Muito mais prontuários, porém assunto pontual.
Para os dois casos de auditorias clinicas citados, podemos auditar de forma:
- Retroativa: assistência já prestada e finalizada
- Perspectiva: assistência sendo prestada
5. Educação e treinamento
Oferecer educação continuada e desenvolvimento para que as equipes desenvolvam as competências necessárias para cumprir suas funções com excelência e atualização constante com participação dos profissionais em cursos e conferências, avaliações de eficácia para garantir que os treinamentos foram apropriados, avaliações de desempenhos individuais com os colaboradores para identificar as fraquezas e oportunidades para o desenvolvimento pessoal e profissional.
6. Envolvimento dos pacientes
Envolver os pacientes e a comunidade para aprimorar a assistência e os serviços por meio de pesquisas de satisfação. Entender o desfecho clínico como a experiência dos pacientes como uma fonte de informações para monitorar sua satisfação.
7. Gerenciamento de pessoas
A instituição deve trabalhar com processo adequado de recrutamento e seleção dos profissionais e com fluxos padronizados de gestão de pessoas.
Garantir que os colaboradores tenham as competências necessárias para o padrão exigido pelas funções para as quais foram contratados.
É fundamental ter programas de retenção de talentos que incluem estratégias para a motivação e desenvolvimento da equipe, além de proporcionar qualidade de vida.
Como implementar uma Governança Clínica?
A Governança Clínica precisa ser:
- Processo dinâmico e periódico.
- Atividade permanente de identificação, mensuração e feedbacks clínicos de falhas nas rotinas e procedimentos assistenciais.
- Processo estratégico.
Para a implantação dessa cultura, há alguns itens essenciais que precisam ser cumpridos e adotados:
- Fazer um diagnóstico da situação atual (assistência, registro seguro, fluxos e rotinas)
- Fazer um levantamento sobre as formas e metodologias de gestão adotadas.
- Entender quais processos atendem às diretrizes, quais precisam de melhorias e quais sequer foram implementados.
- Envolver a equipe médica, pois estamos falando de governança clínica, a participação dos médicos é indispensável, desde o planejamento.
- Enfatizar que o objetivo é prezar pela melhoria contínua e apresentar o diagnóstico inicial para que a equipe possa entender os pontos de melhorias necessários.
- Traçar objetivos e metas, ou seja, definir claramente o estado desejado e o prazo para chegar lá. Dividir o objetivo maior em pequenas metas a serem atingidas em prazos curtos, traz melhor eficácia e menor tempo, incentivando as equipes.
- Estabelecer indicadores de desempenho com índices gerados juntos ao planejamento, a partir de cada objetivo e meta.
- Dar e receber feedbacks com caixas de sugestões, pesquisas de satisfação, ouvidoria, entre outros.
Com essas ações as instituições evidenciam efetividade e eficiência, ou seja, benefícios para a segurança do paciente, para a imagem perante a comunidade e parceiros e para a sustentabilidade financeira, de tal forma que:
- Reduz os desperdícios do sistema de saúde.
- Reduz Falhas
- Oferece um modelo remuneratório baseado em valor, ou seja, voltado a resultados assistenciais.
- Controla a sinistralidade.
- Prioriza a segurança do paciente.
- Prevê recursos e resultados.
- Aproveita o desempenho da organização.
- Avalia a qualidade do serviço prestado.
- Disponibiliza o leito hospitalar ou a agenda de maneira eficiente.
- Melhora a experiência do usuário.
- Humaniza o atendimento
A Governança Clínica não é apenas um conceito teórico
Ao concluir esse artigo sobre a Governança Clínica, fica claro que este é um tema de importância vital para o setor de saúde, e sua relevância só tende a crescer com o tempo. Enfim, é muito mais do que apenas um conceito teórico, é uma abordagem prática que está transformando a maneira como cuidamos da saúde e como a assistência médica é prestada.
É essencial que profissionais de saúde, gestores de sistemas de saúde e pacientes estejam atentos a essa tendência e se envolvam ativamente na busca pela melhoria contínua da qualidade, eficiência e transparência na área da saúde.
Resumindo, a Governança Clínica é uma jornada em andamento, repleta de desafios e oportunidades. À medida que avançamos nessa jornada, é crucial manter um compromisso com os princípios da Governança Clínica e continuar explorando novas maneiras de aprimorar a assistência médica para o benefício de todos os envolvidos.
Este é um convite para todos nós participarmos desse processo e contribuirmos para um sistema de saúde mais eficiente e eficaz.