Gestão de Riscos na área da saúde

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Ana Giovanoni

Quando falamos em riscos na área da saúde, imediatamente nos reportamos a uma situação indesejada que cause dano ao paciente. Risco é o efeito da incerteza ou a possibilidade de que um evento ocorra e afete, positivamente ou negativamente, os objetivos do processo.

Vale ressaltar que problemas são diferentes de “riscos”. O problema é o fato ocorrido, ou seja, neste caso é o risco já concretizado. Problema tem a visão do passado (do que já aconteceu) e risco tem a visão do futuro (do que pode vir a acontecer).

Explicado isso, podemos dizer que a gestão de riscos é um conjunto de atividades coordenadas para dirigir e controlar os riscos de uma organização. Na área da saúde, identificar, analisar, avaliar, classificar, priorizar, tratar mitigar e monitorar os riscos é uma prática essencial, tendo em vista que estamos lidando com vidas e um risco concretizado pode até mesmo levar o paciente à óbito.

Considerando sua relevância na área da saúde, a Gestão de Riscos é uma exigência das diversas certificações, como por exemplo, a ISO 9001:2015, MEG – Modelo de Excelência da Gestão da FNQ, a Acreditação ONA de serviços de saúde e a Acreditação de Operadoras pela ANS.

Gestão de riscos: identificando, avaliando e classificando

A implantação da Gestão de Riscos num serviço de saúde (hospital, clínica, laboratório, operadora, etc) exige a definição clara dos processos da organização e da criação de um grupo de pessoas responsáveis pelo projeto.

Iniciar a análise dos riscos priorizando os processos principais da cadeia de valor, diretamente relacionados à assistência e segurança do cliente, é uma alternativa interessante para implantar a gestão de riscos na área da saúde de forma mais sustentável.

Como identificar riscos

Uma ferramenta normalmente utilizada para identificar os riscos dos processos é o brainstorming. Para identificar os riscos é importante levar em consideração alguns aspectos, como:

  • Possibilidade de ocorrência de evento nas inter-relações dos processos (cadeia cliente/fornecedor);
  • Tendências de judicialização;
  • Resultados de auditorias internas e externas;
  • Resultados de pesquisas de satisfação;
  • Relatórios de reclamações de clientes;
  • Resultados de analises críticas de indicadores;
  • Estratégias da organização.

Como classificar os riscos

A classificação da natureza dos riscos permite classificá-los em categorias de risco. Em geral, podemos falar em  Riscos Estratégicos, Riscos Operacionais e Riscos Financeiros. Vejamos cada um deles:

  • Os Riscos Estratégicos estão associados à tomada de decisões da Alta Administração e podem impactar no valor econômico da organização. Exemplo: diminuição da demanda de mercado causada por uso de novas tecnologias pela concorrência;
  • Os Riscos Operacionais estão relacionados às perdas por falhas nos processos internos. Exemplo: perda de clientes por falha na segurança do paciente.
  • Os Riscos Financeiros estão associados à má administração do fluxo de caixa, impactando nos níveis de endividamento da organização. Exemplo: aquisição de novas tecnologias sem planejamento financeiro de médio e longo prazo e sem a garantia de que os equipamentos irão gerar caixa.

Após a identificação e classificação dos riscos, o próximo passo é avaliar a probabilidade de ocorrência do risco e o impacto se ele ocorrer. Esta classificação permitirá, por exemplo, que posicionemos os ricos na Matriz de Riscos para priorizar a definição de ações mitigação.

A importância da notificação dos riscos assistenciais

Na área da saúde, um fator fundamental na gestão de riscos é desenvolver a cultura de notificação dos riscos pelas equipes envolvidas nos processos da cadeia de valor.

Estabelecer um sistema de notificação de incidentes e eventos e um fluxo prioritário para notificação e controle de incidentes com dano grave e catastrófico é um fator crítico para a implantação da gestão de riscos na saúde. Para que isto seja incorporado na cultura organizacional, é fundamental se atentar a alguns aspectos, é preciso:

  • Definir o fluxo para notificação (manual ou eletrônica) dos eventos;
  • Assegurar que qualquer colaborador possa notificar um evento;
  • Classificar todos os eventos;
  • Garantir que danos graves/óbitos sejam notificados, inclusive no Notivisa (sistema de notificação de eventos da Vigilância Sanitária – Anvisa);

Por exemplo, se um paciente caiu da maca numa sessão de fisioterapia isto é um evento que precisa ser notificado internamente para avaliação e tratamento pela instituição e simultaneamente notificado na plataforma do Ministério da Saúde, no Notivisa – Anvisa.

É de conhecimento público que esta prática precisa evoluir muito no Brasil, pois as estatísticas do Ministério da Saúde sobre eventos ocorridos e registrados no Notivisa é muito baixo devido à falta de notificação.

Gestão de riscos não é normatização, é melhoria do serviço!

Estou cada dia mais convicta de que a implantação de uma cultura de gestão de riscos é um fator crítico para a melhoria da qualidade da assistência em saúde.

Cultura se desenvolve com engajamento, participação, compartilhamento do conhecimento e, talvez o mais importante, entendimento das pessoas sobre os impactos da ocorrência de um risco e sobre o quanto cada um pode contribuir para evitá-los realizando com atenção suas atividades.

Precisamos criar a cultura do registro e da notificação e permitir o erro, pois só assim teremos condições de analisar criticamente os eventos adversos, orientar as equipes, melhorar processos e promover a segurança do paciente!

Artigo originalmente publicado no dia 10 de abril de 2019.

 

Sobre o autor (a)

Este post tem 2 comentários

  1. Ana Manuel

    Foi muito bom, e a professora amou o trabalho obrigada.
    Continua ajudando pessoas e continuar a escrever.
    Continua ensinando mas pessoas que Deus abençoe.

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